Por favor, use este identificador para citar o enlazar este ítem: http://hdl.handle.net/11422/22736
Especie: Dissertação
Título : Os olhos verdes da mulata: diatribes implícitas sobre a mestiçagem brasileira
Autor(es)/Inventor(es): Duarte, Adryele Maria Gomes de Oliveira
Tutor: Cairus, Henrique Fortuna
Resumen: No Brasil, a miscigenação não só se tornou símbolo de um “ser brasileiro”, como serviu de justificativa para as teses de que o povo seria ora inferior, ora superior aos das demais nações. A mistura racial que aqui se deu largamente, inicialmente pelo convívio entre o branco (português), povos indígenas e, posteriormente, com os negros foi compreendida tanto como degeneração, segundo preceitos cuja arqueologia tentou-se desvelar, como de exaltação, a partir de propostas que faziam contraponto à eugenia. Segundo essa eugenia, as raças se misturavam e, consequentemente, perdiam a sua pureza inicial e mesmo a sua essência. Além disso, tal mestiçagem estaria relacionada a práticas sexuais que se difundiam nesta Terra. Sobrecaía a responsabilidade na nudez do indígena, na escassez de mulheres brancas para os portugueses, na alegada lascívia da raça negra, na condição de escravizadas das mulheres negras. O resultado, segundo certas teses, foi a formação de um povo preguiçoso, doente e de um futuro incerto, como afirmavam os homens de ciência brasileiros, incluindo, é claro, grande parte dos eugenistas. Por muitos anos, esses intelectuais argumentaram que a saída para reverter os problemas que a miscigenação causou estava na boa miscigenação, isto é, no embranquecimento populacional por um cruzamento racial controlado por uma política eugênica que se confundia com uma política higiênica. Em 1933, Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre, inova o cenário intelectual, inserindo o negro como elemento crucial para a formação racial e cultural de um povo único: o brasileiro. No lugar do pessimismo, nasce a democracia racial, que apesar de negar a inferioridade do negro e do brasileiro, fomenta a crença de que não há racismo no Brasil devido à mistura racial: se somos todos misturados, como poderia haver racismo? Todavia, o estereótipo da negra sensual é reforçado nas ideias de Freyre, como se essas mulheres fossem as grandes responsáveis pela mistura racial. Essa discussão esteve presente em grande parte da produção artística e intelectual brasileira. O caráter implícito dessa disputa discursiva pode ser notado até mesmo em indícios como o fato de ter Paulo Prado escrito o prefácio do Manifesto da poesia Pau-Brasil. A miscigenação transbordava para a arte, que a acolhia e elevava à condição de grande bem, de tesouro nacional, um tesouro que se recusa a verter capital social.
Resumen: In Brazil, miscegenation not only became a symbol of “being Brazilian”, but also served as justification for the thesis that the people were either inferior or superior to those of other nations. The racial mixture that was widely spread here, initially by the interaction between the white (Portuguese), with the indigenous peoples, and, later, with the black, was understood both as degeneration, according to precepts whose archeology we tried to unveil, and as exaltation, based on proposals that counterpointed eugenics. According to this eugenics, the races mixed and, consequently, lost their initial purity and even their essence. Moreover, such a mixture would be related to sexual practices that were widespread on this Earth. The indigenous nudity, the scarcity of white women for the Portuguese, the alleged lewdness of the black race, the enslaved condition of black women were all blamed. The result, according to certain theses, was the formation of a lazy, sickly people with an uncertain future, as affirmed by Brazilian scientists, including, of course, a large part of the eugenicists. For many years, these intellectuals argue that the way to reverse the problems that miscegenation caused was through good miscegenation, that is, in the whitening of the population through racial interbreeding controlled by an eugenic policy that was mixed with a hygienic policy. In 1933, Gilberto Freyre’s The Masters and the Slaves innovated the intellectual landscape, inserting the black as a crucial element in the racial and cultural formation of an unique people: the Brazilian. In place of pessimism, racial democracy was born, which, despite denying the inferiority of the black and of Brazilians, fosters the belief that there is no racism in Brazil due to racial mixture: if we are all mixed, how could there be racism? However, the stereotype of the sensual black woman is reinforced in Freyre’s ideas, as if these women were responsible for the racial mixture. This discussion was present in much of the Brazilian artistic and intellectual production. The implicit character of this discursive dispute can be noticed even in indications such as the fact that Paulo Prado wrote the preface of the Manifesto of Pau-Brasil Poetry. Miscegenation overflowed into art, which welcomed it and elevated it to the condition of a great asset, a national treasure, a treasure that refuses to shed social capital.
Materia: Racismo
Miscigenação
Negros
Aspectos sociais
Branqueamento
Materia CNPq: CNPQ::LINGUISTICA, LETRAS E ARTES::LINGUISTICA::LINGUISTICA APLICADA
CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::HISTORIA::HISTORIA DAS CIENCIAS
Programa: Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada
Unidade de producción: Faculdade de Letras
Editor: Universidade Federal do Rio de Janeiro
Fecha de publicación: 20-ago-2022
País de edición : Brasil
Idioma de publicación: por
Tipo de acceso : Acesso Aberto
Citación : DUARTE, Adryele Maria Gomes de Oliveira. Os olhos verdes da mulata: diatribes implícitas sobre a mestiçagem brasileira. 2022. 106 f. Dissertação (mestrado em Linguística Aplicada) - Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022.
Aparece en las colecciones: Letras Clássicas

Ficheros en este ítem:
Fichero Descripción Tamaño Formato  
AMGODuarte.pdf1.21 MBAdobe PDFVisualizar/Abrir


Los ítems de DSpace están protegidos por copyright, con todos los derechos reservados, a menos que se indique lo contrario.